A vida é realmente dura para muitas pessoas. Nesta quarta-feira eu pude comprovar com meus próprios olhos a triste realidade dos moradores do bairro do Pedregal. Este bairro fica na períferia da cidade e é um dos bairros mais esquecidos pelos governantes.
Como todos os dias eu tenho que chegar em casa antes das 12 hs para preparar o almoço e pegar meu filho na casa de minha tia. Sai tarde da faculdade, e quando estava quase chegando no meu ponto o ônibus passa bem na minha frente, perdi o danado. Felizmente, ia passando um daqueles carros alternativos que me ofereceu uma “carona” até perto de casa. Eu fui. Só não podia imaginar que a danada da Combi ia se enfiar justamente no bairro do Pedregal antes de seguir pro meu destino.Fiquei transtornada. Nunca tinha visto tanta miséria na minha vida, e fiquei logo com medo daquele povo estranho me olhando pela janela.
Parecia até castigo, pois quando a gente tava quase saindo da zona de perigo do bairro do Pedregal, a infeliz da combi da pau no meio de uma ladeira enorme. Eu fiquei simplesmente desesperada!
Encheu de gente ao redor da combi, e sabia-se lá quais eram as intenções daquele povo. Uns eram tremendamente assustadores, mas a maioria eram solidários e tentaram ajudar a Combi encalhada a subir a ladeira.
Teve um senhor que foi pegar uma garrafa com “Um restim de gasolina” pra ver se a Combi movida a gás saia do lugar.
Eu sei que foram cerca de 40 minutos de “agonia” na tentativa de fazer o alternativo pegar, e não é que o “restim de gasolina” do homem serviu pra ressucitar a bichinha. Enfim subimos a ladeira e seguimos rumo ao Bodocongó, bairro em que moro.
O que eu não podia imaginar é que aqueles 40 minutos parada ali no meio do desconhecido serviriam para me ensinar o quanto que eu aprendi naquele dia. Enquanto estávamos ali, eu passei a observar tudo o que se passava ao nosso redor, e pude constatar o descaso explícito que os governantes tem para com aquela gente. Sei que aquele não é o único bairro que sofre com isso nessa cidade, nesse país, mas serviu de exemplo para mim, pois eu também pude constatar que apesar de não terem saneamento básico ou infraestrutura mínima para se viver com dignidade, aqueles moradores ainda mantinham o espírito solidário dentro deles, pois eu creio que se não fosse com a ajuda deles, eu ainda estaria lá no meio da ladeira esperando socorro (risos).
Ao chegar em casa eu fiquei me perguntando:”se este caso tivesse acontecido no conjunto dos professores,(bairro nobre da cidade, vizinho ao Pedregal) será que alguém teria nos ajudado?”. Eu acho que não, pois todos estão muito centrados com seus pequenos problemas, e trancafiados dentro de suas casas com medo de seus vizinhos indesejados, e jamais teriam tempo para ajudar alguém no meio da rua.
Eu não nego que fiquei com medo ao descobrir que estava no meio de uma favela, mas pelo menos agora eu sei que meu pensamento é nada mais nada menos, do que algo que a sociedade já impregnou na cabeça de muitos equivocadamente, de que em favela só tem marginal, e eu me senti muito injusta por isso.
O que falta a eles é a oportunidade de mostrarem que são capazes, falta a eles o mínimo para se viver com dignidade, falta a eles recurso financeiro para comprarem seu alimento de cada dia, é isso que falta.
O que sobra é injustiça, esquecimento, e miséria, e é daí que surgem os “marginais” que tanto amedrontam os mais favorecidos pela sociedade.
O que nos resta é fazer diferente neste ano, votar naqueles que lembram de todos, principalmente dos que mais necessitam, não nos que fazem parte de uma elite política que nada sabem da realidade dos que moram no Pedregal, por exemplo. Vamos esquecer sim, desses políticos que passam pelo poder hereditariamente, e deixar de lado o conformismo e a comodidade para ver se dá pra fazer do nosso país, um país melhor.
Andréa Garside